Ano 1456 - João
Gutenberg produz a primeira Bíblia impressa
Durante a Idade Média, apenas poucas
pessoas possuíam a Bíblia ou livros de qualquer tipo. Os monges copiavam os
textos à mão, em folhas de papiro ou em pergaminhos feitos de peles de animais.
O custo desses materiais e a remuneração do tempo utilizado pelos copistas
estavam muito além das posses do homem comum, mesmo quando o livro que
determinada pessoa quisesse ler estivesse ao seu alcance.
Não havia muitas pessoas que
conseguiam ler na própria língua, e muitos livros — incluindo-se a Bíblia —
estavam disponíveis apenas em latim, língua que um número ainda menor de
pessoas compreendia. O povo comum confiava no sacerdote local e nos desenhos ou
nas imagens da igreja para obter informação sobre a Bíblia. O sacerdote local,
com freqüência, tinha pouco ou nenhum treinamento em latim, e seu conhecimento
da Bíblia era bastante precário. Embora os estudiosos debatessem sobre as
Escrituras e escrevessem comentários, seus pensamentos dificilmente chegavam até
o cristão comum.
Uma das maiores mudanças do século xv
teve enorme impacto sobre essa situação. Na década de 1440, João Gutenberg
experimentou a impressão com tipos móveis de metal. Ao montar um livro com
tipos de chumbo, ele podia fazer muitas cópias a um custo muito inferior ao de
um texto copiado à mão.
Em 1456, Gutenberg — ou um grupo do
qual ele fazia parte — imprimiu duzentas cópias da Vulgata, a Bíblia
latina, revisada por Jerónimo. O homem comum não podia ainda compreender a
Palavra de Deus, mas esse foi o primeiro
passo de uma enorme revolução.
Durante algum tempo, os impres-sores
de Mainz guardaram segredo sobre as técnicas de Gutenberg, mas, em 1483, quando
Martinho Lutero nasceu, todos os grandes países da Europa já tinham pelo menos
uma máquina de impressão. No espaço de cinqüenta anos, desde a primeira
impressão da Bíblia de Gutenberg, os impressores já haviam ultrapassado a
quantidade de material que os monges produziram em vários séculos. Os livros
passaram a ser disponibilizados em diversas línguas, e houve um aumento do
número de pessoas que sabiam ler e escrever.
Sem a invenção de Gutenberg, talvez
os objetivos da Reforma tivessem levado mais tempo para ser alcançados. Uma vez
que apenas o clero podia ler a Palavra de Deus e compará-la aos ensinamentos da
igreja, a Bíblia tinha um impacto limitado sobre o cristão comum.
Com a invenção da máquina de
impressão, Lutero e os outros reformadores poderiam fazer com que a Palavra de
Deus ficasse disponível "a todo jovem do campo e a qualquer empregada
doméstica". Lutero traduziu as Escrituras para um alemão bastante eficaz e
de fácil leitura, usado durante vários séculos. A partir do momento em que
todos tiveram acesso à Bíblia, nenhum sacerdote, papa ou concilio se colocava
entre o cristão e sua compreensão da Bíblia. Embora muitos afirmassem que o homem
comum poderia não compreender a Palavra de Deus e talvez precisasse que ela
fosse interpretada pelos clérigos, os alemães começaram a fazer exatamente
isso.
Conforme liam, esses homens e
mulheres comuns começaram a se sentir parte do maravilhoso mundo da Bíblia. O
ensinamento da Bíblia em casa tornou-se possível. Lentamente, a barreira entre
o pastor e o membro da igreja foi destruída. Em vez de se preocupar com o
pensamento "O que tenho de confessar ao sacerdote?", o crente podia
perguntar: "Será que a minha vida está de acordo com a Palavra de
Deus?".
Com a invenção de uma complexa
ferramenta de impressão, um fogo foi aceso por toda a Europa, uma chama que
espalhou tanto o evangelho quanto a instrução.
Com bastante freqüência, isso assumiu
a forma de troca de idéias teológicas e o afastamento dos grupos heréticos da
igreja. Porém, a igreja — que ainda não fora capaz de alçar vôo — não poderia
impor qualquer sistema de fé aos que estavam no erro.
Em 1184, o papa Lúcio in, preocupado
com o sistema de crenças dos freqüentadores da igreja, pediu que todos os
bispos "inquirissem" sobre as crenças de seu rebanho. Um homem que
fosse culpado de heresia seria excomungado, ou seja, colocado para fora da igreja.
Contudo, não deveria ser punido fisicamente e, caso se retratasse de sua
heresia, seria readmitido à igreja. Teoricamente, a igreja usou esse
instrumento tanto para corrigir de maneira amorosa um irmão que estava
equivocado quanto para proteger os outros desse erro.
Os 100 Acontecimentos mais
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